Kotodama ou kototama é uma palavra japonesa usada para designar determinados sons que influenciam os objetos, o nosso corpo físico e espiritual, o que nos rodeia. Koto significa palavra e tama significa espírito pelo que kotodama significa literalmente espírito da palavra.
Pode ser recitado ou cantado e, na cultura japonesa, esses sons provocam uma alteração no estado de consciência ajudando à nossa concentração e elevação espiritual. Os cinco princípios de reiki de Mikao Usui também são recitados ou cantados como um kotodama repetindo-se três vezes o texto.
Sobre a língua japonesa e este tema (retirado do site Gouki Shinryu Heihou):
«A maioria geralmente não pensa ou debate sobre isso, porém todo literato, linguista e/ou escritor tem a linguagem como sua principal ferramenta de trabalho, de modo que percebe as nuances que a envolve. A partir da linguagem de um povo, é possível extrair muitos de seus hábitos e um pouco do que compõe a psique dessa nação, uma vez que a linguagem é o meio que o homem encontrou para exteriorizar seu conhecimento e emoções internas.
A partir desse prisma, não é tão difícil identificar diferenças elementares simplesmente a partir da linguagem dos povos. Por exemplo, o inglês é uma língua muito simples e objetiva, o que sugere a urgência e dinamismo históricos do povo americano e inglês em termos de negócios, uma vez que o inglês arcaico é muito diferente, de maior complexidade (havia até mesmo acentos gráficos), essa simplificação é, em parte, o que ajudou o inglês a se consagrar como "língua universal." O francês e sua complexidade um pouco mais elevada tanto fonética quanto gramaticalmente remontam ao seu passado nobre e reflete seu desejo por um status pomposo. O russo é um idioma de sonoridade tão forte quando o semblante de seus nativos e de difícil assimilação, tais quais seus costumes. O português é um idioma complexo, bastante específico em alguns pontos, como a diversidade de palavras e tempos verbais, por exemplo, e bastante vago em outros, como na lógica de suas exceções e irregularidades fonéticas e ortográficas (é com s, ss, c ou ç?), como os próprios lusitanos e sua sede de poder, que, sem o direcionamento adequado, logo os fez perder o posto de potência e, porque não dizer, compatível ainda com os brasileiros e sua relatividade de valores e simultânea capacidade incrível de adaptação.
No caso nipônico, a linguagem é encarada de maneira muito diferente, para não dizer oposta, ao método ocidental. Um antigo conceito nipônico chamado Kotodama, presente inclusive desde documentos ligados ao mito de criação japonês como o Kojiki, significa o poder ou o espírito das palavras/linguagem. A partir disso, Kotodama sugere que nas palavras e nomes está contido uma responsabilidade e mesmo poderes místicos, sendo que os japoneses não vêem a linguagem como um objeto e sim como um evento, um assunto a ser estudado e interpretado das mais variadas formas.
Pelo fato da língua japonesa não ser muito rica foneticamente, muitas palavras são pronunciadas da mesma forma e podem causar mal-entendidos, caso o interlocutor não se mantenha atento. É contra a etiqueta japonesa ser muito direto, sendo assim, tanto por educação como por conveniência, um discurso pode ser facilmente proferido de forma genérica, de modo a deixar uma mensagem subentendida.
Por isso, na língua japonesa, o que predomina é a interpretação e todos os elementos envolvidos ao ato de falar também contam na passagem da mensagem. Esse é um dos motivos pelos quais a interrupção de um discurso é inadmissível para a dinâmica de linguagem japonesa, mesmo as pausas podem conter algum significado. Ma é o termo que se refere ao que os japoneses chamam de "pausas no tempo e no espaço", que por definição são muito mais que uma mera lacuna em branco. Nas artes, que constituíram as primeiras aparições e grande parte de sua utilidade de ma dentro da cultura japonesa, essas pausas demarcavam ritmo, dramaticidade e integravam todo o conjunto adquirindo importância. Posteriormente, esse hábito passou a ser utilizado também socialmente e foi completamente integrado por serem os japoneses um povo de muitas sutilezas em todos os sentidos, tudo em sua cultura é muito artístico.
Por outro lado, a Kotodama possui também sua faceta negativa para os japoneses, tal qual a linguagem pode favorecer as artes, seu poder também é temido pelo povo. Essencialmente discretos, os japoneses mantém certa desconfiança nas palavras, por serem muito generalizadas e dependentes do contexto, com frequência eles acham por bem não se embasar por completo no que ouvem ou mesmo no que dizem, pois jamais podem ter certeza de que a mensagem foi passada adequadamente. Seria extremamente indelicado questionar o interlocutor sobre isso e, na visão japonesa, a responsabilidade pelas palavras que se profere é única e inteiramente do indivíduo, caso não tenha sido bem sucedido em transmitir o que intencionava, a vergonha e a retratação devem ser absorvidas por ele.
Encaradas como artes por excelência e patrimônio cultural japonês, também as artes marciais originadas nesse território sofreram influência do "espírito da palavra." Qualquer pesquisador e/ou praticante das artes japonesas podem perceber que é muito frequente a utilização do Kiai, ou seja, a vocalização de algumas sílabas durante a prática da técnica. Isso é uma evidência elementar da crença japonesa no poder da palavra e da linguagem, os antigos guerreiros utilizavam essa ferramenta para intimidar o oponente e mostrar superioridade, quanto mais alto e bem proferido o seu Kiai, melhor visto era o bushi.
Essa filosofia serve como ensinamento para a educação e consciência do poder da linguagem. Um senso de responsabilidade deve ser adquirido sobre o que se fala, pois as palavras proferidas são o que os demais podem captar da sua personalidade e essência, bem como tudo que as cerca, ou seja, sua postura, entonação, vocábulo, gestos. O conjunto de todos esses fatores compõe a figura que será criada em torno de sua imagem e todo emissor deve cuidar para se fazer entender claramente, do contrário, idéias equivocadas sobre suas afirmações podem ser geradas e, a partir disso, todo um ciclo de influências se formará em torno desse entendimento errôneo que inclusive poderá voltar a prejudicar o próprio indivíduo.»
http://www.heihou.com.br/bujutsu/index.php?option=com_content&view=article&id=262:kotodama&catid=40:marcial&Itemid=61